sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

TODO MUNDO QUER UMA PONTA


Cerca de mil e noventa e seis pessoas se cadastraram na pesquisa para figuração que uma produtora terceirizada da Globo realizou na última quinta-feira em Ilhéus. Foi interessante observar como todo mundo quer uma “ponta” na nova novela das onze horas que terá algumas cenas gravadas nas roças de cacau. E, de fato, será mesmo uma “ponta” já que aqueles que forem escolhidos pela assistência de direção apenas farão lavadeiras, trabalhadores rurais e peões. Os figurantes são o pano de fundo das cenas principais.

A “ponta” é uma gíria teatral - e também de televisão - que se usa para indicar aquele que terá um papel pequeno, sem qualquer fala. Diferente do “ponto” que era aquele que antigamente lia em voz baixa as falas do texto que deviam ser repetidas em voz alta pelo ator. O ponto ficava instalado num alçapão localizado no centro baixo do palco, escondido do público por uma proteção curva que ajudava a projetar o som de sua voz para o fundo da cena. Embora os atores não utilizem mais o recurso do ponto, essa função, hoje em dia, pode ser eventualmente substituída por aparelhagem eletrônica. Em algumas casas de ópera, porém, ainda é usado o ponto tradicional.

A “ponta” é sinônimo de figurante e figuração. É aquele que participa de cenas de multidão preenchendo espaços na composição criando climas ou compondo a ambientação. O conjunto de figurantes de um espetáculo teatral ou ópera é também chamado de figuração.

No linguajar teatral também utilizamos um outro sinônimo para “ponta”. Trata-se da “comparsaria”, que também é o nome dado ao conjunto de atores que tomam parte no espetáculo em aparições esporádicas ou cenas de multidão. Enfim, ponta, figurante, figuração ou comparsaria, o importante mesmo para aquelas centenas de pessoas que compareceram à pré-seleção da novela Gabriela é aparecer. É ser visto.

Infelizmente, o Teatro, não consegue exercer, para a grande maioria da população, o fascínio que a TV exerce. O teatro representa, na televisão, um papel que não deve ser negligenciado. Todo um público só verá teatro sob a forma de uma retransmissão, de uma gravação ou de um teleteatro. Nunca ao vivo. “É capital, como bem afirma Patrice Pavis, refletir sobre as relações destas duas artes e sobre as transformações sofridas pelo evento teatral, quando transformado em programa de TV.”

A telinha, no coração da casa, é o ponto (não o “ponto”) de atração e o cordão umbilical que liga a alguém nalgum lugar que mal situamos. No Teatro, o próprio espectador faz sua triagem nos signos da representação, na televisão (como no cinema), uma crítica do sentido já foi efetuada para ele no enquadramento, na montagem, nos movimentos de câmera.

De qualquer sorte, eu ainda prefiro o Teatro. Mesmo que haja “teatro” na televisão e que a última palavra para dar sentido ao espetáculo parta de uma encenação fílmica. Ou a foto acima diz o contrário? Rs.

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